No último texto eu debati sobre o que é educação financeira e como podemos abrir esse diálogo em diversos espaços sociais. Hoje, vou falar um pouco sobre a imagem do educador financeiro e o que realmente significa esse título. Na teoria, o educador financeiro é aquele que promove a educação financeira, mas com que meios e quais os pré-requitisos necessários para assumir essa missão? Se você quer se tornar um profissional dessa área ou se tem curiosidade para saber mais sobre esse assunto, vem comigo nessa conversa.

O que é ser educador financeiro?

Primeiro de tudo é importante destacar que esta não é uma profissão regulamentada, isto é, não há pré-requisitos legais para exercer a profissão. Não há um curso superior específico ou pós-graduação que dê o título de educador financeiro. Por esse motivo, o termo é usado com muita flexibilidade e por pessoas formadas em diversas áreas do conhecimento. Como não há uma legislação ou determinação formal, resolvi compilar uma lista de quesitos que eu considero cruciais para um bom profissional dessa área, baseado na minha experiência profissional e no contato constante com o público. 

1) Formação e Qualificação

Apesar de não haver necessidade legal de ter uma formação, eu acredito fortemente no conhecimento técnico. Há diversos cursos sobre investimentos, finanças e até mesmo educação financeira – presenciais e online – de instituições prestigiadas. Pessoalmente, gosto mais dos cursos acadêmicos de mais longa duração, como pós-graduação e mestrado, que fornecem uma base mais robusta de teorias, conhecimento e técnicas que expandem o horizonte de quem está se preparando para atuar no mercado.

2) Certificações

As certificações são exigidas somente para aqueles que querem atuar nas áreas de consultoria, agente autônomo de investimento e planejador financeiro, mas podem ser um excelente instrumento de aprendizado e até mesmo reconhecimento do público. Vou citar abaixo algumas das provas mais conhecidas:

– CPA-10 e 20: são as certificações exigidas para quem trabalha nos bancos comerciais atendendo ao público. Podem ser bons degraus de conhecimento caso você seja leigo no assunto, já que tratam de produtos financeiros em caráter mais básico.

– CEA (Certificado de Especialista em Ativos): Este é o certificado que eu tenho, então posso falar dele com mais propriedade que dos outros. É como o irmão mais velho dos CPAs, que basicamente engloba toda a matéria das outras duas provas, além de derivativos, previdência privada, análise de risco e noções de economia comportamental. É uma prova bastante completa que exige cálculo e manejo da calculadora financeira e por isso é bem mais complexa que as anteriores, mas é uma formação mais completa para quem quer trabalhar como educador financeiro. A prova dá um panorama bem amplo de todas as categorias de ativos disponíveis no mercado brasileiro e sua legislação, além de introduzir às técnicas de montagem de carteira e investimentos.

– CPF (Certified Financial Planner): É uma certificação internacional oferecida no Brasil pela Planejar. Ela vai além do CEA ao ensinar técnicas de planejamento financeiro mais complexas, como a legislação de sucessão patrimonial. Para você ter esse certificado, há necessidade de experiência prévia comprovada de atendimento ao público.

– Prova da ANCORD: É a prova que habilita o profissional a exercer a profissão de agente autônomo de investimento (AAI) e trabalhar juntamente às corretoras. Esta é uma prova mais técnica para o trabalho de um AAI em relação à legislação e limites da profissão além de adequação dos investimentos ao perfil do cliente.

3) Conhecimento Prático

Os dois fatores anteriores são essenciais para ganharmos conhecimento técnicos e nos familiarizarmos com teorias, técnicas e novidades. Porém, o conhecimento prático é tão importante quanto, já que é através dele que aprendemos a lidar com as diversas ferramentas disponíveis no mercado, desde plataformas de investimento até o pagamento de imposto de renda. Os clientes sempre perguntam questões práticas e o fato de você ter conhecimento em primeira mão certamente passa segurança.  Além disso, é com a prática que você consolida os conhecimentos técnicos adquiridos nos cursos e certificações. 

4) Capacidade Pedagógica

Como o próprio nome já diz, o trabalho de um educador financeiro passa pela educação e para que o processo seja benéfico para ambas as partes é necessário ter uma boa capacidade pedagógica: explicar de forma clara, comunicar suas ideias com simplicidade e sem a necessidade de termos técnicos, paciência, entre outros. Basicamente as mesmas características que gostaríamos de ver nos professores. Parece besteira, mas a maioria das pessoas sente muita insegurança na hora de lidar com dinheiro e investimentos e por isso é importante e construir no investidor a confiança que ele precisa para trilhar o caminho da educação financeira de forma mais autônoma.

Resumindo, apesar de não haver critérios exatos ou legalmente exigidos de um profissional para atuar como educador financeiro, é imprescindível ter responsabilidade com todos que terão acesso ao seu trabalho, e para isso é preciso se preparar. Além do conhecimento formal através de cursos, há diversos livros, sites, blogs e podcasts com informações de qualidade para complementar o processo – além do que podem te dar visões do mercado completamente diferentes e te transformar em um profissional ainda mais versátil e preparado. Assim como bons professores, precisamos lembrar que nossos aprendizes têm insegurança e precisam de apoio, não só técnico, mas também psicológico, para passar pelos obstáculos e alcançar seus objetivos financeiros. E é isso que o educador financeiro promove: felicidade e sonhos através do bom uso do dinheiro.

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